domingo, 27 de novembro de 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

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38.

- Ao chegar aqui não consigo reprimir um suspiro . Há dias em que se apodera de mim um sentimento mais negro que a mais negra melancolia - o desprezo pelos homens.
- E para não deixar dúvida alguma sobre o que desprezo e sobre quem desprezo, direi que é o homem de hoje, o homem de quem por infelicidade sou contemporâneo. O homem de hoje - o seu hálito impuro asfixia-me... Como todos os lúcidos uso de grande tolerância para com o passado, isto é, generosamente me constranjo a mim mesmo: atravesso com melancólica circunspecção milhares de anos de um mundo-manicómio (...) - abstenho-me de tornar responsável a humanidade pelas suas doenças mentais. Mas a minha sensibilidade revolta-se, explode, assim que penetro nos tempos modernos, nos nossos tempos. O nosso tempo é consciente.

O Anticristo, Nietzsche

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

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O meu vocabulário intimo tem passado pela seguinte sequência de palavras: fodasse, caralho, filho/a da puta, puta que te pariu. Entre estas criaturas de natureza agressiva, surgem frases, pequenas; são bastante pequenas. Passo a citar: quero ter oportunidade de te ver, gostava de sair, de entrar, estou-me a passar, não percebo, digo sem certeza, estou melhor, é hoje que lá vou... Tudo isto preenche, como chamarei, o meu dia, o meu tempo, a minha hora contida nos segundos e nos micro-segundos. Percebes? De entre tudo isto a única coisa que fica para outro dia, sempre, será a acção e a reacção. Pele sensível, lábios, mãos, cona, olho do cu, fronha, anca (mais que nunca sensível) todos eles sensíveis, excepto o conjunto. Percebes? Mais ainda são as perguntas... Percebes? Eu devo ter de me explicar melhor, não é? Torna-se imperceptível, quase incomestível, intragável, insaciável, irreconhecível. Duas fontes numa só barragem. Vou tentar explicar. Falha o uso da fábrica de fogo de artificio. A fábrica existe, os funcionários também, o material está instalado, mas não se produz, não se edifica a ideia, não se concretiza. Percebes? Eu sei que sim. Nietzshe disse-me ainda a semana passada que eu sou Cristã. Percebes? Onde é que eu o sou, como é que lá cheguei. Como é que se opõe um ponto, defendes o ponto e virgula, mas sublinhas o ponto? Percebes não percebes? Falo de cagar, cuspir, ter cera nos ouvidos, comer macacos, mexer no sangue periódico assumidamente, sem que isso seja o tornado..........................................................................Adormeço sempre nesta parte.................................................Quero saber se realmente estás e vais continuar a estar..................................................

Zebra

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Pombo no céu parado

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Se fosse religioso,
diria que os pombos que pavoneiam as cidades
são as câmaras de Deus.

Os olhos não tem sentimento
Os olhos não mexem e vêem tudo

O olho da câmara, que é igual aos olhos do pombo,
só se desliga quando vê o milho
a que a mulher e o homem, romanticamente, chamam de pipocas

Se eu fosse Deus, ditaria isto assim.
Mas como eu não sou Deus, Deus não existe.
Não existem pombos enquanto pombos
mas existem pombos enquanto asas.

A. Varanda

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pita

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Começa por ser a sensação de um novo corpo em ti, só de um trago, amargamente infinito. A boca por sua vez seca, quero comer. Revela-se impossível a missão de comer, tudo deixa de ter sabor, só vais comendo, o ovo que ali existia deixa de existir. Comes, queres sentir, então comes. Até que a pessoa que cozinhou percebe que está a fazer um frete, porque com a boca seca, a saliva inexistente, torna-se difícil mastigar. Mas comes só para teres a certeza, que entre imagens turvas e envoltas em fundo branco, ainda vives. Por isso acabas o jantar e buscas uma maça, comes fervorosamente, e continuas a tentar desfazer a tua grande e fodida verdade do momento. Segue-se a meloa, fresca pode ser que ajude. Outra vez a sensação de queda, desfazer-me em mil, olho para a televisão, entro em viagem e só me lembro de rir. Rir muito e acabar num sono profundo, daqueles que queremos que durem eternamente. Daqueles que gostaríamos que fossem eles a tirarem-nos a vida, a levarem-nos para a cova. Subtilmente, sensivelmente e suavemente. Discreto, de agradável sabor.
Infelizmente dura pouco...

domingo, 28 de agosto de 2011

fogo posto

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Há um desconhecido desinteressante na orla da floresta: ninguém o vê.
Depois de medir a respiração de todos os que estão ali, avança, na medida certa, bem entendido.
A floresta recebe o condenado à morte, dizendo-lhe: seja nosso convidado.
Sonâmbulo, ele senta-se para jantar.
Que pitéu, dizem todos. O convidado é boa boca, não há como distingui-lo dos outros.
A floresta em redor está seca e negra: é por causa dos fogos.
No meio da floresta, decorre um festim irrigado de vinho, daquele que adormece.
O desconhecido desinteressante nunca aprendeu a medir o vinho tão bem como aprendeu a medir as respirações dos outros.
É na mesa do banquete que se encontra o cadafalso.
O homem, sem que o conheçam, sem que se interessem por ele, acolhe a sentença com um gesto.

B.V.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Conversas de Café

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Ontem estava eu sentada, sozinha por uns largos minutos, que se tornaram intermináveis. E ao lado, na mesa mesmo ao lado, estavam quatro pessoas: duas mulheres e dois homens. Já todos gordos, crescidos, adultos, sorrisos pálidos e gargalhadas corrosivas. Cheios de uma excentricidade simpática, culta, estilizada, e classicamente pensada. Por momentos ouvia a conversa que por ali acontecia. E um dos homens, de barba grossa, farta, com a sua presença tipicamente melancólica dos românticos da família Maia, começa por dizer: "Ora ainda bem que falamos das alterações climáticas (não me recordo se foram estas palavras, mas recordo-me que o assunto tinha algo a ver com isto)". Depois disto iniciou uma explicação sobre este facto "ALTERAÇÕES CLIMÁTICA" acompanhada de gestos duros, firmes, revelando uma novidade aos acompanhantes que lhe devolviam uma superioridade atroz. Ele tocava na toalha de mesa quase como se a limpasse, passava com o dedo no topo do copo muito subtilmente e tudo isto apoiado por um discurso seguro e preciso.



Foi nesse momento que eu percebi a beleza de se ser adulto. Penso sempre que não há nada mais bonito que ser criança, que não há nada mais profundo que se ser adolescente, e que nada é comparável à poética da velhice, chegando sempre à conclusão que o Ser Adulto é uma criatura reles, prepotente, aborrecida, monótona. Mas naquele momento descobri que é a fase mais elevada da nossa ingenuidade, fala-se com convicção e da convicção, com certeza e da certeza. Fala-se da vida e tem-se o idealismo de haver apenas aquela verdade. E isto é belo só por ser ingénuo, por ser mais infantil que uma brincadeira de criança, ou uma fita de uma avó.


É o tempo de se dizer palavras certamente sem sentido.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Salvem o cinema

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Salaam Cinema do realizador MohsenMakhmalbaf
Recomendo vivamente que vejam este filme. Não vou pormenorizar o seu conteúdo porque acho interessante que se descubra ao vê-lo. Isto são apenas as filmagens de um casting que um prestigiado realizador independente iraniano fez para um filme.
Eu consegui retirar daqui muito do que andamos para cá a fazer. É mais giro discutirmos isto depois de todos  o termos visto.


PS.: o link do torrent: http://thepiratebay.org/torrent/3899331/Salaam_Cinema_-_Mohsen_Makhmalbaf - demora algum tempo a sacar mas vale a pena. Também existe no youtube!


rodrigo

Do estranho não se sabe

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Ainda que a minha gula não seja do tamanho da minha ira, muitas vezes na semana eu dizia para algum transeunte que se juntasse - Estou com fome. - acrescentava sempre, porém - vamos comer! - neste tom imperativo eu reiterava e aquele ou outro transeunte reiterava igualmente. Verdade é que só agora começo a perceber o verdadeiro significado destas palavras. Não o poderei explicar sucintamente porque para o fazer tenho de definir a forma como o percebi.
Assim sendo, vou começar pelo inicio que é tão simples quanto parvo. Saí de casa para fazer algo que nem eu ao certo saberia. Talvez estivesse para ir dar uma volta e afogar os olhos nessas estantes com preços marcados a quem eu desdenhava e queria comprar. Como sempre desta rotina a que eu chamava de tempo morto que dá sede, parti em direcção a um qualquer café solicitado para comprar água engarrafada. Assim o fiz e assim aproveitei a sua casa-de-banho, uns degraus mais abaixo, para mais uma vez lavar as mãos. De mãos lavadas subi para o café onde chegavam alguns daqueles quadrados de estranheza refinada e que o nariz se lhes torcia em palavras humoristicamente classificadas. Sem perceber o que motivava o meu sorriso de apresso por os ver, assassinei o tempo morto que dá sede e após uns finos fomos até às escarpas profundas que eram sensivelmente a 500 km.
Com o tapete mágico do individuo mais endinheirado, não passaram mais de vinte minutos para lá chegar. De cabelos no ar, todos nos fomos sentar na escarpa mais alta e que também tinha o melhor tempero de charros de sempre. Aí ficamos a trocar galhardetes aparentemente amigáveis. Sem martelos muito se martelou. 
Acabaria aquele fim de tarde por cair ao som dos nossos delírios. 
Cai também eu. 
Foi numa daquelas escarpas que encurvava para um ramal sem acesso que deslizei sem me magoar e no espaço de um caixão fiquei preso. Pouca luz era a que conseguia ver e a música estridente dos canais de vento apagaram-me qualquer percepção do que se passava.
Tornaram-se intemporais e imprecisas aquelas horas que ali estive sem ouvir. Por um lado, foi um alivio não ouvir mais aquele mundo que me martelava.
Passadas as primeiras horas de sonhos mal dormidos e pânico insuflado, aparentemente 15 horas, apenas uma frase me ocupava a caixa de texto. Dizia-me ela - Tenho fome. Podemos comer? - Não lhe dizia que não nem que sim. Não lhe respondia. Apenas consegui questionar aquela frase que a minha inócua gula me fazia imperar algumas vezes por semana. Não se passou muito mais tempo mas esta frase comeu a minha sanidade durante o tempo que se sucedeu. Não me lembro de lágrimas me terem escorrido até voltar ao sítio onde cai. 
Lembro-me de lá chegar novamente acima, àquele sítio tão alto, salvo por algum Aladino vestido de bombeiro. Apenas pedi para lavar novamente as mãos. Obviamente, todos me ajudaram a lavar as mãos. 
De mãos lavadas não estava aparentemente magoado. Revi-me por dentro e pude dizer, como nunca tinha dito antes, - Tenho fome!
O silêncio instalou-se e um dos quadrados que por lá se mantiveram deu-me uma bifana.
Posto isto, voltei a cair na escarpa. 
O ciclo está a repetir-se até agora, entre cair e voltar a comer a bifana só consegui parar neste ponto final.

sábado, 20 de agosto de 2011

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C de Cerveja

Por Pedro Carvalho, nutricionista*

Depois do tremoço e do amendoim, esta semana falamos sobre a fiel companheira de ambos num final de tarde estival: a cerveja.

À semelhança do tremoço, durante o império romano a cerveja era considerada a bebida das classes mais desfavorecidas e dos bárbaros, pois nesta época era o vinho que fazia o deleite das elites.

Curioso é também o facto de a cerveja ser a bebida alcoólica menos calórica – uma imperial tem cerca de 70kcal - e estar constantemente a ser conotada com a célebre “barriguinha”. Pois bem, a maioria das bebidas alcoólicas adquire o seu valor calórico através da quantidade de álcool, e de açúcar em alguns casos - espumantes, vinhos generosos e licores, por exemplo. Não tendo a cerveja açúcar e sendo a bebida alcoólica mais pobre neste calórico nutriente (um grama de álcool fornece quase tantas calorias quanto um grama de gordura) é fácil perceber que não será certamente pelo consumo moderado de cerveja que a barriguinha vai ficando proeminente.

Relativamente às propriedades nutricionais da cerveja, esta é fundamentalmente uma bebida com mais de 90 por cento de água, quatro a cinco por cento de álcool (com excepção das cervejas gourmet) e quantidades vestigiais de fibra solúvel e hidratos de carbono. É uma fonte de vitaminas do grupo B e de alguns minerais destacando-se um ratio potássio - sódio muito favorável e co-responsável (juntamente com o álcool) pelo efeito diurético desta bebida.

É difícil dissociar se a origem dos efeitos positivos na saúde do consumo moderado de cerveja derivam do seu teor em álcool, se de outros componentes nutricionais. Em todo o caso, alguns estudos epidemiológicos revelam um menor risco de desenvolvimento de diabetes associado ao consumo moderado de cerveja, tal como uma melhoria da densidade mineral óssea. Neste último caso, para além do efeito positivo do etanol, existe outro mineral específico da cerveja que promove a formação óssea: a sílica. Também na prevenção de eventos cardiovasculares e formação de trombos, a cerveja desempenha um papel significativo sendo o seu consumo regular muito importante para manter este efeito.

Em suma, todas as vantagens descritas poderão ser obtidas respeitando dois critérios no consumo: regularidade (quase todos os dias) e moderação (dois a três copos por dia). A partir de agora, em vez de culpar a cerveja pela “barriguinha”, poderá contar o número de copos em cima da mesa ou o tipo de aperitivos que a acompanhou!

*Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto


Público

terça-feira, 16 de agosto de 2011

domingo, 31 de julho de 2011

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Gostava de te poder ver ainda hoje,
São coisas, só coisas,
Que quero dizer é que isto é isto,
Mas não tem de ser isto.
Instável, próxima, insegura
É a fragrância sexualmente transmissível.
Sobriamente saboriável,
De uma embriaguez delirante e degustada.
Somos todos eles.
Proponho (Propomos) o encontro,
O espaço solto, revolto, envolto.
Queres que diga também,
Eu digo sabiamente também,
Eu digo falsamente, cinicamente também,
O que realmente digo é outra coisa:
Cobra, cordeiro, lobo, égua e ovo.



Matta

sábado, 23 de julho de 2011

As borboletas não são flores

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São as borboletas que fazem a minha imagem de pessoas questionadas. Quero eu referir, todas aquelas pessoas e pessoas que por momentos deixam na escrita perguntas para ninguém. O lado, que não é o consciente, faz-se usar de uma falsa ignorância para interrogar as palavras sobre porque é que eu não sou visto da maneira como me vejo.
Com o devido respeito, meus ordinários, acreditam mesmo que as palavras vos responderão?
Certamente, eu não acredito e ordinário o sou. Ainda assim, que mal tem falar com as palavras.
Por outro lado que bem tem falar com elas? Nenhum, e é isso que é o bonito.
Esse bonito que não moí nem mata a fome, alimenta apenas um sorriso de compaixão a quem as lê.
São tão profundas estas reflexões, tão sentidas por quem as escreve. Mas é só isso. Não critico as palavras choradas que soltei, as metáforas simbolicamente geniais que usei para me por no mundo, critico a razão que elas não têm. Não caiemos no erro de achar que elas são para quem as lê, os seus talvez leitores. Elas, essas de tão intima qualidade, são para quem as escreve.
Como já escrevi e disse, mal nenhum tem isso. Acredite-se é que o bem que tem é só para quem o escreve. Porque não se pensa em dar ao mundo aquelas espelhadas palavras. Pensa-se em dar o bonito à nossa maneira de ver.
Começo a perceber que borboletas não são flores. Ainda que o melhor dos wallpapers as meta sempre juntas, a borboleta voa e a flor fica.

Portanto, quando escrevemos, acima de tudo, há-que saber para que se faz isso.
Só ao saber se aquilo é para ser lido em espelho ou não, é que conseguimos olhar para este monte de palavras e dizer algo acerca.


Caso seja como fizera, soa-me, agora, que isso é como vestir uma flor para ficar mais bonita.



sexta-feira, 22 de julho de 2011

a minha fome

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de Ryan Mcgingley


Comecei por levar o prato envolto em azeite, que por excesso, acabou por ser derramado sobre a mesa de madeira (cereja).
Acho que é isto, a minha fome. A gordura, o animal, a febre intensa de carne, desejo, paixão. Em pouco tempo apercebi-me que vou ser uma velha rezingona, rabujenta, sózinha... Esta é a minha imagem de mim. Apercebi-me disto por lembrar de coisas como o meu primeiro investimento num blog. A minha última intervenção no "Gondryside", foi a 30/11/10, não está assim tão longe quanto isso.


Falo de amor, de paixão, de vida, de ar, de bolhas, de música, mas acho que nunca chego a dizer de mim. Não mostro os amuos. É a perfeição da letra estrábica.
Quem o viu, quem o acompanhou, ao "gondryside" não o soube ver... Nem sequer eu própria.
Acho que afinal estou a falar de uma crise de identidade.

Sempre quis estar nua, foi, é e vai ser sempre isso.