sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Conversas de Café

Ontem estava eu sentada, sozinha por uns largos minutos, que se tornaram intermináveis. E ao lado, na mesa mesmo ao lado, estavam quatro pessoas: duas mulheres e dois homens. Já todos gordos, crescidos, adultos, sorrisos pálidos e gargalhadas corrosivas. Cheios de uma excentricidade simpática, culta, estilizada, e classicamente pensada. Por momentos ouvia a conversa que por ali acontecia. E um dos homens, de barba grossa, farta, com a sua presença tipicamente melancólica dos românticos da família Maia, começa por dizer: "Ora ainda bem que falamos das alterações climáticas (não me recordo se foram estas palavras, mas recordo-me que o assunto tinha algo a ver com isto)". Depois disto iniciou uma explicação sobre este facto "ALTERAÇÕES CLIMÁTICA" acompanhada de gestos duros, firmes, revelando uma novidade aos acompanhantes que lhe devolviam uma superioridade atroz. Ele tocava na toalha de mesa quase como se a limpasse, passava com o dedo no topo do copo muito subtilmente e tudo isto apoiado por um discurso seguro e preciso.



Foi nesse momento que eu percebi a beleza de se ser adulto. Penso sempre que não há nada mais bonito que ser criança, que não há nada mais profundo que se ser adolescente, e que nada é comparável à poética da velhice, chegando sempre à conclusão que o Ser Adulto é uma criatura reles, prepotente, aborrecida, monótona. Mas naquele momento descobri que é a fase mais elevada da nossa ingenuidade, fala-se com convicção e da convicção, com certeza e da certeza. Fala-se da vida e tem-se o idealismo de haver apenas aquela verdade. E isto é belo só por ser ingénuo, por ser mais infantil que uma brincadeira de criança, ou uma fita de uma avó.


É o tempo de se dizer palavras certamente sem sentido.

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